terça-feira, 10 de agosto de 2010

DIÁCONOS SERVIDORES!

Por Dom Orani João Tempesta

No dia 10 de agosto celebramos a festa de São Lourenço, diácono e mártir e patrono dos diáconos. Viveu na época do Papa Sisto II, quando procurou servir os pobres com bens da comunidade de fé.

Sobre ele recordamos as palavras do Santo Padre, em sua homilia na Basílica que leva o nome do mártir, em Roma, em 30 de novembro de 2008: “sua vida foi dedicada aos pobres, e deu generoso serviço à Igreja de Roma, especialmente no cuidado dos pobres e da caridade!”

De São Lourenço recordamos o seu testemunho diante da pressão do imperador que queria para si os imaginados bens da Igreja: “a riqueza da Igreja são os pobres.”

Percorrendo o mês de agosto, mês das vocações, deparamo-nos com a Vocação Diaconal. Celebramos o Dia dos Padres no dia quatro de agosto, e o Dia dos Pais no segundo domingo do mês, quando começa a semana nacional da família. O diácono é uma vocação ministerial para o serviço.

Existem muitas razões de ordem pastoral para a implantação do diaconato permanente onde ainda não o foi. Poderíamos enumerar algumas: ampliação dos serviços da caridade e da liturgia junto ao povo fiel, principalmente nos grandes centros urbanos, tão carentes deste atendimento por parte da Igreja; a presença sacramental e ministerial da Igreja em muitas ambientes da vida secular onde ela não consegue chegar com facilidade. Afinal é um dos ministérios presentes na Igreja e que complementam a missão na diversidade de funções e necessidades.

Porém, gostaria de ressaltar o diácono como fonte do ministério do amor e da justiça. O diácono é ordenado para incorporar uma dimensão do ministério apostólico: o do serviço, como disse acima.

O próprio termo diaconia já por si expressa o ser diácono – o que serve, configurando-se ao Cristo Servo que “não veio para ser servido, mas para servir”. O diaconato expressa-se em três dimensões: o serviço da caridade, o serviço da liturgia e o serviço da Palavra de Deus.

E dentro da perspectiva do serviço, destaco o da caridade, o serviço junto aos pobres, à situação de pobreza. A Igreja espera dos diáconos uma resposta às necessidades dos menos favorecidos de nossa sociedade.

Recordo a carta da Congregação do Clero, assinada pelo Cardeal D. Claudio Hummes, emitida por ocasião do Ano Sacerdotal: “os diáconos são identificados, sobretudo, com a caridade. Os pobres são o seu ambiente cotidiano e o foco de sua atividade sem descanso. Não se compreenderia um Diácono que não se envolvesse na caridade e na solidariedade para com os pobres, que hoje de novo se multiplicam.”

O Diaconato é um ministério do limite, por causa da atenção e do cuidado com aqueles que estão na situação de miséria e de pobreza, os preferidos de Jesus, e que precisam de nossa atenção social e também espiritual.

O diácono é um sinal da caridade e do serviço, da Igreja que ama os pobres e vive para servir aos homens e as mulheres de boa vontade. O diácono é um servo que traça o caminho do amor e da afeição em relação ao dom maior da caridade.

Em seu empenho pela caridade, deve-se incluir a sua estreita colaboração ao bispo, que é o primeiro responsável pela caridade na Igreja local, e o diácono é chamado, pelo seu ministério, a ser um de seus mais próximos colaboradores nesta missão.

Em muitas dioceses, seja no Brasil ou no exterior, temos vários testemunhos de diáconos empenhados e que servem, principalmente, a mulheres vitimas de violência, a crianças maltratadas, doentes mentais, tóxico-dependentes, pessoas portadoras de HIV, sem teto, prisioneiros, refugiados, migrantes, populações de rua, desempregados e vítimas de discriminação racial ou étnica. Isso tudo, sem dúvida, é uma grande riqueza para a Igreja.

Outro tipo de pobreza para a qual o diácono é chamado a servir é a pobreza de ordem espiritual. É muito fácil encontrarmos pessoas que estão em extrema carência de atenção, que se encontram na solidão, na raiva, no ódio, na confusão espiritual, na depressão, e no sofrimento. Precisamos levar Jesus para essas pessoas, mantermo-nos junto delas, oferecendo o Seu amor.

Os diáconos podem muito se empenhar no ministério da escuta e do aconselhamento desses nossos irmãos. Sendo homens de fé, a serviço da Igreja, também estão inseridos no ambiente familiar, da cultura e do mundo do trabalho. Isso tudo lhes permite conhecimento de causa e, à luz do Evangelho, como servidor da Palavra, dar ânimo de vida e de esperança.

Neste dia dedicado aos Diáconos, peço por todos os nossos diáconos permanentes da Arquidiocese. Agradeço o serviço que prestam ao seu Bispo e ao Povo de Deus. O exemplo de perseverança e de fidelidade de seu patrono, São Lourenço, possa ser uma luz na caminhada ministerial dos Diáconos.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

LECTIO DIVINA (LEITURA ORANTE DA BÍBLIA)

Apresentamos um método para leitura orante da Bíblia (Lectio Divina), com o qual você poderá ler, meditar, rezar e contemplar o texto bíblico de modo que compreenda o que Deus disse para o povo na situação em que viviam e o que está querendo dizer para nós hoje.

1º. LECTIO (LEITURA): ler o texto várias vezes até criar uma maior familiaridade. Pronunciar bem as palavras. Entrar em contato com o texto utilizando-se de muita atenção, respeito, escuta... Sugerimos que essa leitura também seja criteriosa, evitando e até excluindo uma leitura fundamentalista. É preciso ver o texto dentro do seu contexto e origem.

A leitura responde a pergunta: O que diz o texto?

2º. MEDITATIO (MEDITAÇÃO): Esse passo é um convite para que atualizemos o texto e consigamos trazê-lo para dentro do horizonte da nossa vida e realidade. A meditação é um ótimo espaço para que se medite e reflita o que há de semelhante e diferente entre a situação do texto com o hoje. Depois, é importante resumir tudo o que foi ruminado numa frase. Essa frase o ajudará a recordar durante o dia o que foi meditado. É um prolongamento da meditação. Aos poucos vai havendo uma relação do que foi meditado com a vida de quem está meditando.

A meditação responde: O que diz o texto para mim, para nós?

3º. ORATIO (ORAÇÃO): Praticamente a oração está presente em todas as etapas. É importante que haja uma transparência no ato da oração e que o orante seja realista. Ele pode usar o momento tanto para louvor, ação de graças, súplica, pedido de perdão, rezar algum salmo, recitar preces já existentes. É importante que esse momento possa ajudá-lo na reflexão da frase escolhida.

A oração responde: O que o texto me faz dizer a Deus?

4º. CONTEMPLATIO/ACTIO (CONTEMPLAÇÃO/AÇÃO): depois de ler, meditar e orar o texto bíblico e sua realidade, chegou a hora de contemplar todo esse percorrido. "A contemplação nos ajuda a entender que Deus está presente na realidade". Pela contemplação é possível perceber a presença de Deus. E com isso somos convidados ao compromisso com a realidade.

E a contemplação/ação ajuda a responder: Estou pronto para nova missão?

Shalom!

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Proteção à vida

Por Dom Dadeus Grings

Vivemos numa época em que os direitos humanos emergem e assumem hegemonia. A Declaração Universal dos Direitos Humanos, pelas Nações Unidas, em 1948, é considerada uma das mais belas páginas escritas ao longo da história humana. Estabelece, no artigo 1, que “todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos”. A ciência, porém, mostra que a vida humana de uma pessoa não se inicia com o nascimento, mas com a concepção. É neste momento que se inicia sua trajetória pessoal. Como consequência, surge a patética batalha em favor da vida desde seu início até seu fim natural, com o direito de garantir a inviolabilidade da pessoa humana.
Antigamente o útero materno era o lugar mais seguro para o desenvolvimento da vida humana incipiente, ao abrigo das intempéries, assim como o lar constitui o melhor ambiente para a salvaguarda da infância. Com o decorrer dos tempos, porém, o útero materno tornou-se o ambiente mais vulnerável. Entram em jogo muitos interesses, que vão desde as ideologias até a economia. Quer-se, a todo custo, permissão para eliminar a vida ainda não nascida.
Para sufragar esta pretensão alega-se que a mulher tem direito a seu corpo. Podemos alargar este direito a casa. Também ela é inviolável. Defendemos a privacidade do lar, sem contudo compactuar com os abusos desumanos que ali acontecem. Ninguém tem o direito de invadir o lar alheio. Na verdade o ser humano não é indivíduo mais família. A individualidade é uma abstração, o que equivale a um isolamento do contexto da vida real. O ser humano se determina por suas circunstâncias.
Quando reconhecemos, com critérios científicos, que a vida humana se inicia na sua concepção, sentimo-nos compromissados com ela a partir daquele momento. Concedendo que a mulher, como todo homem, tem direito sobre seu corpo, colocamos a cláusula prévia: ao acolher uma vida humana no seu seio, seu dever é cuidar dela, não menos que uma família que acolhe uma criança em seu lar. Matar uma vida humana no útero materno é agredir a humanidade inteira. Ninguém é obrigado a acolher alguém em sua casa nem no útero, mas uma vez ali estando, cabe o cuidado e o carinho que a vida humana merece.
A tentação do aborto retrata uma luta entre a mulher e a mãe. Obviamente estamos do lado da mãe. Quando a mulher destrói o feto, por qualquer razão que possa alegar, ela está matando também a mãe. Quando, em vez disso, uma mãe decide acolher a criança que concebeu, não só não mata a mulher mas a eleva ao ponto mais alto de sua dignidade.
Lorraine Murray, quando feminista, professava o amor livre, posicionava-se a favor do amor casual contra o matrimônio e consequentemente a favor do aborto. Reconhece que o amor livre inevitavelmente leva ao aborto. Acreditava que o aborto não teria nenhuma consequência para a mulher. O direito de liberdade da mãe sobrepujaria o direito de um bebê à vida. Após ela mesma provocar o aborto, inicialmente julgou ter ficado apenas livre da gravidez indesejada. Mas logo se deu conta da ilusão. Seu instinto maternal e suas emoções femininas reagiram com veemência. Confessa que, só após seu regresso à prática da Igreja, percebeu o equívoco. Deu-se conta de que não poderia ser simultaneamente “pró-mulher” e “antibebê”. Descobriu então “ser a favor dos direitos da mulher de uma maneira sadia e bela”.
No simpósio sobre bioética realizado no XVI Congresso Eucarístico Nacional de Brasília, uma doutora defendeu a tese de que o aborto é questão de saúde pública. De fato, envolve sempre a morte de uma vida humana, no caso o feto, e uma grave agressão à saúde da mulher que jamais conseguirá superar plenamente seu impacto. Saúde é, pois, evitar este desastre.