segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

DIACONATO PERMENENTE

Por Dom Orani João Tempesta, O. Cist.

Nos últimos anos temos visto na Igreja o incremento do ministério do Diácono Permanente. Não resta dúvida de que os padres conciliares foram inspirados para esta restauração. A retomada desse ministério, como uma vocação própria, é uma grande riqueza para nós.

Tive a oportunidade de poder vivenciar várias experiências ligadas ao diaconato permanente, seja em minha paróquia, seja iniciando a escola diaconal em minha primeira diocese ou então continuando uma caminhada das mais antigas do Brasil, na arquidiocese anterior a que servi. Percebi a importância e o valor do diaconato permanente, tanto no campo social como na presença evangelizadora da Igreja nos diversos âmbitos e também nas comunidades. Posso testemunhar por minhas experiências a riqueza da vida, da missão e trabalho diaconal o bem que se faz à Igreja.

Nem sempre as pessoas compreendem como esse passo que o Concílio Vaticano II nos deu foi profético. Muitos selecionam do Concílio apenas aquilo que querem e não acolhem esse grande dom que nos foi dado. Muitas comunidades no Brasil e no exterior já deram grandes passos nessa direção, enriquecendo a Igreja local com os diversos carismas e dons.

Se nos atualizamos com alguns números do Anuário Pontifício, ficamos impressionados com a vida diaconal em algumas dioceses nos Estados Unidos: Nova York conta com 377 diáconos, Los Angeles possui 261, e Boston com 257. Os pastores dessas megalópoles, com todos os seus desafios pastorais e sociais tão grandiosos quanto os nossos, souberam acolher a proposta conciliar e deram passos que hoje marcam o trabalho dessas Igrejas.

O importante é que “é preciso superar uma inércia ministerial das Igrejas, acostumadas a ver só um tipo de ministério ordenado na comunidade” (doc. 57 - pg. 22 – Estudos da CNBB - 1988). A ação do Espírito Santo se adiantou às nossas necessidades e missão.

Aqui na Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro começou uma das primeiras iniciativas para a ordenação de diáconos permanentes ainda com o meu predecessor, Cardeal Dom Eugênio, sendo ele também um dos pioneiros na defesa desse ministério. Tive a graça de suceder em Belém e aqui no Rio de Janeiro a Arcebispos pioneiros que trilharam esse caminho, e foram fieis ao Concílio, com a organização desse ministério hierárquico. Acredito que seria muito importante uma história dessa vocação, seus inícios, passos e com mais dados e fatos em nossa Igreja do Rio de Janeiro.

A nossa Arquidiocese criou a sua Escola Diaconal, onde os candidatos passam quase 5 anos de intensa formação doutrinal, pastoral e sacramental, de acordo com as horas-aula que são exigidas segundo os documentos que organizam a formação diaconal.

Com toda esta história e com o trabalho sendo bem desenvolvido, peço a Deus que nos envie muitas vocações para que possamos incrementar ainda mais, com o diaconato permanente, a nossa missão evangelizadora e catequética nesta grande cidade. Tive a alegria de ordenar, no dia 28 de novembro passado, o mais novo grupo de diáconos permanentes, que vem somar forças com aqueles que já caminham e servem a esta Igreja com generosidade e alegria. Agora necessitamos de olhar adiante e para o futuro.

Confio principalmente aos párocos o discernimento vocacional para que, consultadas as comunidades e os conselhos paroquiais, indiquem candidatos para serem encaminhados nessa direção. Em uma cidade como a nossa não podemos nos acomodar e sim nos colocar à escuta do Senhor para que saibamos acolher os trabalhadores que Ele envia para a messe. Os párocos devem perceber em suas comunidades aqueles homens capazes de assumir essa caminhada vocacional, e também estar abertos para as vocações que lhe chegam espontaneamente ou indicadas por pessoas conhecidas que querem o bem da Igreja.

A própria comunidade paroquial é fonte de vocações desses homens que estão dispostos a uma doação mais radical e profunda pela causa do Evangelho. É um belo testemunho que temos ao nosso redor com tantas pessoas de diversas situações culturais e sociais se colocarem a serviço do povo de Deus com generosidade e alegria, autorizados pelas esposas e com a alegria dos filhos.

Somos chamados a dar testemunho e nos empenharmos numa lógica de comunhão ministerial, onde percebamos que a vida ministerial deve estar completa para que possa transparecer todo o múnus sacerdotal, profético e régio de Cristo, cabeça e fundamento de toda a vida vocacional na Igreja.

E que possamos, assim, perceber toda a riqueza de vocações e de serviços que existem no corpo da Igreja, onde todos estão a serviço de um único Senhor e de um único Evangelho. Todos, sendo diferentes na sua caminhada vocacional, e sendo diferentes no modo de vida na qual assumem os seus propósitos de bem servir à Igreja de Cristo, devem ter o firme propósito de completar em si mesmos o único ministério do Cristo, e do qual emanam todas as vocações.

Quero pedir, portanto, a todos os sacerdotes, e em especial aos párocos de nossa Arquidiocese, que, em comunhão com as diretrizes desta nossa Igreja particular do Rio de Janeiro, possam se empenhar para o frutuoso incremento das vocações diaconais. Quero reafirmar que estarei sempre empenhado, seguindo a linha de ação pastoral de meus predecessores, no desenvolvimento da vida diaconal em nossa Arquidiocese, com tanto vigor quanto tenho pelas vocações sacerdotais e religiosas.

Recordo que a seleção prévia dos candidatos nas paróquias já é um chamado, e se reveste de grande importância. A formação e o discernimento aperfeiçoarão esse chamado.

O caminho institucional é o que atualmente está em vigor: os nomes dos possíveis candidatos são enviados à Comissão Arquidiocesana dos Diáconos Permanentes (Cadiperj), e, uma vez aceitos, poderão ingressar no período do propedêutico, com duração de um ano, e ao seu término poderão ser inscritos na Escola Diaconal Santo Efrém.

Peço ao Senhor da Messe que nos envie boas e santas vocações diaconais para a nossa Igreja de São Sebastião do Rio de Janeiro. O cânon 385 nos recorda que: “O Bispo diocesano incentive ao máximo as vocações para os diversos ministérios”.

Assim respondo com alegria ao pedido que a Mãe Igreja me pede: promover as vocações em todos os seus ministérios, e, agora, aqui, especialmente, o ministério diaconal.
Site CNBB, em 22 Fev 10.

O DECRETO DA DISCÓRDIA (Direitos Humanos?)

Por D. Dadeus Grings, Arcebispo de Porto Alegre

O Decreto presidencial 7.037, do Programa Nacional de Direitos Humanos, suscitou muitas reações de todos os setores da sociedade, desde militares à Igreja, desde imprensa aos advogados... Que houve de errado? Alega-se, em defesa, que já sugiram duas edições anteriores de "Direitos Humanos", que não provocaram estranheza e que se consideram similares. Vem então a pergunta: se duas edições iguais não deram certo, porque reeditá-la numa terceira, fora de época?

Se o paradigma das duas primeiras ainda era a globalização, hoje o paradigma tende a proteger os valores particulares e as tradições próprias. Não é, pois, um contra-senso reeditar medidas fora de época, ainda mais numa perspectiva chavista, como se ouve aos quatro ventos? A falha está no próprio método.

Nossa República Federativa apresenta três instâncias, que a Constituição define como independentes e quer harmoniosas: Executivo, Legislativo e Judiciário. Infelizmente, chegamos a uma situação paradoxal em que o Executivo legisla por decretos e medidas provisórias; o Legislativo julga por CPIs; e o Judiciário governa com liminares. Consequentemente, o país fica em contínuo sobressalto, porque nenhum dos Três Poderes tem as devidas credenciais e os indispensáveis dispositivos para agir nestes campos que, constitucional e organicamente, pertencem a outro poder.

Por que editar decretos, com uma salada de leis indigestas, a serem acolhidas em bloco? Compete ao Legislativo legislar. Foi eleito e tem os devidos dispositivos para isso, sem provocar celeumas na sociedade, mesmo que não o faça sempre a contento... Além do mais, o Decreto 7.037 confunde Estado e sociedade. O Estado procura abafar a sociedade. A sociedade, ao contrário do Estado, é pluralista e tem cultura que conquistou ao longo de sua história. Não se pode impunemente abafar o que lhe pertence.

A Revolução Cultural Chinesa, por isso, se frustrou, além de causar muito sofrimento e muitos dissabores. Feriu profundamente a nação. O mesmo aconteceu com a Revolução Francesa, que tentou eliminar até o domingo e a semana, tão profundamente arraigados na sociedade ocidental. Nem falemos das tentativas semelhantes do nazismo e do marxismo, que não só teoricamente, por decreto, mas na prática, tentaram fazer tabula rasa do passado cultural. E para sintetizar tudo, lembremos a destruição de uma das maiores estátuas de Buda, esculpida em pedra, no século V. Pois, em 2001, iniciando o Novo Milênio, os "donos do poder" no Afeganistão julgaram não poder tolerar esta "idolatria" e decretaram que ela não fazia parte da cultura do momento. Hoje estes governantes são execrados.

Os novos governantes procuram reconstruir o que os outros malfadadamente destruíram. Não podemos impunemente despir o Brasil de seus valores religiosos e culturais, a título de equipará-lo aos países de outras tradições. Temos que lutar pelo que é nosso.

Se, em vez de legislar por decretos, o governo tivesse editado, dentro de sua competência, e executasse um pacote de medidas para conter a violência, enfrentar a difusão da droga e acabar com a corrupção, teria colhido uma aprovação praticamente unânime da sociedade. Se em vez do "Decreto da Discórdia", como se revelou o Programa Nacional dos Direitos Humanos, se tivesse empenhado pela reconciliação da sociedade brasileira, superando os conflitos e tensões em todos os campos, pela solidariedade e por uma moradia digna, em lugar das favelas, teria colhido maiores consensos da população brasileira.

Notícia da edição impressa do JC de 11/02/2010

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

APRESENTAÇÃO DO SENHOR NO TEMPLO - (Papa Bento XVI)

O mundo não se atrai tanto pelos mestres, mas pelas testemunhas. Uma das máximas mais importantes e conhecidas do magistério dos papas pode-se bem aplicar à vida dos religiosos, que se consagram a Deus num específico Instituto para servir à causa do Evangelho no mundo.
Essa convicção orientou nestes anos o pensamento de Bento XVI sobre a vida consagrada, em particular quando no dia 2 de fevereiro – festa da Apresentação do Senhor – o papa se dirige aos religiosos no dia que recorda e celebra a sua específica vocação.
Aproveitamos a festa da Apresentação do Senhor para repropor algumas passagens mais salientes do ensinamento de Bento XVI sobre a vida consagrada.

A cena do Evangelho de Lucas que mostra o ancião israelita Simeão ir ao encontro do pequeno Jesus apresentado no Templo por Maria e José, abraçá-lo e expressar toda a sua alegria a Deus por aquele encontro longamente esperado, é como uma "janela" através da qual o Antigo Testamento se "apresenta" no Novo.
Nos olhos do ancião Simeão refletem-se os olhos dos profetas que anunciaram o Messias sem vê-lo: no abraço do ancião ao recém-nascido reflete-se o tempo da primeira Aliança que toca fisicamente a Aliança da salvação. Bento XVI evidenciou a experiência de Simeão numa das homilias de 2 de fevereiro:

"Naquele Menino reconhece o Salvador, mas intui no Espírito Santo que gira em torno dele o destino da humanidade, e que deverá sofrer muito por parte daqueles que o rejeitarão; proclama a sua identidade e a missão de Messias com as palavras que formam um dos hinos da Igreja nascente (...) O entusiasmo é tão grande que viver e morrer são a mesma coisa, e a "luz" e a "glória" se tornam uma revelação universal." (2006)

"Os meus olhos viram a sua salvação", afirma com gratidão o ancião Simeão. Mas o desejo dessa revelação – explica ainda o pontífice – jamais se apagou. "Como os anciãos Simeão e Ana – ressalta – tinham o desejo de ver o Messias antes da sua morte" e falavam dele "aos que esperavam a redenção de Jerusalém":

"... assim também neste nosso tempo é difusa, sobretudo entre os jovens, a necessidade de encontrar Deus. Aqueles que são escolhidos por Deus para a vida consagrada fazem seu de modo definitivo esse anseio espiritual. Neles habita uma só expectativa: a espera do Reino de Deus; que Deus reine em nossas vontades, em nossos corações, no mundo. Neles se consume uma única sede de amor, que somente o Eterno pode apagar." (2007)

"Mais vezes também eu – afirmou Bento XVI no dia 18 de fevereiro de 2008, encontrando um grupo de representantes de Institutos religiosos e de sociedades de vida consagrada – quis reiterar que os homens de hoje sentem um forte chamado religioso e espiritual, mas se sentem prontos a escutar e seguir somente quem testemunha com coerência a sua adesão a Cristo." Em seguida, afirmou:

"A celebração de hoje é mais do que nunca oportuna para pedir juntos ao Senhor o dom de uma sempre mais consistente e incisiva presença dos religiosos, das religiosas e das pessoas consagradas na Igreja em caminho pelas estradas do mundo. Caros irmãos e irmãs, a festa que hoje celebramos nos recorda que o testemunho evangélico de vocês, para que seja verdadeiramente eficaz, deve nascer de uma resposta sem reservas à iniciativa de Deus que os consagrou a si com um especial ato de amor."

Fonte: Rádio Vaticano
Local:Cidade do Vaticano